Uma das cinco florestas citadas no livro é a Amazônica, destino frequente para os dois autores. Tanto John Reid como Thomas Lovejoy realizaram, ao longo de suas carreiras, muitas incursões na região e desenvolveram diferentes pesquisas com o objetivo de colaborar com a conservação do ecossistema.
“No decorrer da leitura, depois de mapear, situar e conceituar as megaflorestas, Reid e Lovejoy passam a tratar do que podemos chamar de construção econômica da emergência climática e o papel central das megaflorestas no processamento de seu elemento central, o gás carbônico”, escreveu e ministra Marina Silva.
A obra da dupla, lançada no ano passado no idioma inglês com o título Ever green – Saving big forests to save the planet, destaca que as cinco florestas têm paisagens intactas, livres de estradas, linhas de energia, minas, cidades e grandes fazendas. São consideradas as terras mais selvagens e biologicamente diversas do planeta.
Coube a John Reid a tarefa de divulgar o trabalho, pois seu colega Thomas Lovejoy morreu em 2021, antes da publicação do livro. Após desembarcar no Brasil para os eventos de lançamento da versão em português, o economista conversou com a Agência Brasil sobre a importância e os desafios para a preservação ambiental.
Agência Brasil – O livro trata de cinco florestas que precisam ser preservadas. Quais são elas e porque são importantes?
John Reid – As cinco megaflorestas ficam na Amazônia, no Congo, na ilha de Nova Guiné, na Rússia e no Norte do continente norte-americano. As três primeiras são tropicais e as duas últimas são boreais, termo que se refere às temperaturas baixas que prevalecem nessa zona. Por serem intactas e grandes, elas conseguem manter quantidades gigantescas de carbono que fariam danos irreversíveis e custariam vidas se fossem soltas pela atmosfera. Além disso, elas conservam a maior biodiversidade de todos os ambientes terrestres do planeta, não somente de flora e fauna, mas de culturas humanas também. Elas são importantes porque fazem o planeta funcionar direito.
Agência Brasil – Quais são os principais entraves para a preservação dessas florestas?
John Reid – Os principais entraves para a preservação são três: atmosférico, econômico e político. A atmosférica é a mudança do clima, que derrete solos congelados no norte, seca os rios nas latitudes tropicais, aumenta os incêndios florestais e desafia plantas e animais no mundo inteiro adaptados a condições mais estáveis. O fator econômico é o excesso de consumo, principalmente mas não exclusivamente em países ricos, que pressiona as florestas e outros ecossistemas a produzirem volumes de matéria prima que não são compatíveis com a conservação. O fator político é uma tendência em vários países de espalhar atividades industriais e agricultura em grande escala nas áreas até agora conservadas. Novas estradas, concessões florestais e minerais são alguns exemplos.
Agência Brasil – Uma dessas florestas é a Amazônia. É possível garantir a floresta em pé e, ao mesmo tempo, levar desenvolvimento humano para os moradores da região?
John Reid – Já existem economias tradicionais e indígenas que dependem da Floresta Amazônica em pé. O primeiro componente de uma estratégia econômica para a região é cuidar e expandir o que funciona. Depois, aproveitar as dezenas de milhões de hectares degradadas e abandonadas. Às vezes, o lucro e o desenvolvimento andam juntos, mas temos que questionar se o lucro decorrente do desmatamento, que polui o ar e fecha a torneira das chuvas necessárias para a agricultura ao sul da Amazônia, representa um desenvolvimento de verdade.
Agência Brasil – Que mecanismos o governo brasileiro pode adotar para cumprir essa missão? A regulamentação do mercado de carbono pode ser um caminho?
John Reid – O Brasil já fez muita coisa. Estabeleceu unidades de conservação grandes e reconheceu muitas terras indígenas, que são as aéreas melhor preservadas da Amazônia. Desenvolveu capacidades de fiscalização e obteve importantes avanços científicos. Mas ainda possui enormes extensões de florestas públicas sem nenhuma definição do uso. Esse estado de limbo estimula a grilagem. Essas terras devem ser destinadas a uma gestão apropriada. O Brasil pode melhorar a segurança das terras indígenas e fomentar condições boas de saúde e educação nas aldeias. E pode evitar os erros do passado quanto à pavimentação de estradas no meio da floresta, que geralmente espalham o desmatamento e o caos social ao invés de trazer desenvolvimento.
Se a regulamentação do mercado de carbono abranger a agricultura e atividades florestais, esse mercado poderia fazer parte da solução, ao providenciar recursos financeiros para conservação. Não substitui as atividades tradicionais de proteção das florestas, mas poderia bancar algumas delas e dar um incentivo para não derrubar.